terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Pagar pau pra gringo"

Hoje eu resolvi me rebelar contra o blog "Classe Média Way of Life" (como um todo), mas resolvi parar pra falar especificamente da crítica de que a classe média brasileira toda "paga pau pra gringo". Já tinha sido apresentada a esse site que usa a generalização como humor (muito legal) mas que faz críticas ácidas usando a mesma arma (aí, pra mim, o humor deixa de ser desculpa pra generalizações). Diz o tão aclamado blog:

"Gringos, para o médio-classista, são como seres de outro mundo, seres iluminados de uma esfera superior, de um planeta onde tudo é ao contrário do Brasil: não há pobres, o trânsito funciona, todo mundo é educado, as ruas são limpas e todo mundo é bonito e veste marcas conhecidas. (...) Logicamente, para se encaixar na categoria “gringo”, nem todo estrangeiro é permitido. A prioridade, claro, é para estadunidenses e europeus ocidentais. Depois vêm os naturais de países anglófonos “de primeiro mundo”, seguido pelos asiáticos “de primeiro mundo”. Pessoas de países em situação econômica pior que a do Brasil não são facilmente aceitas nesta condição. Neste caso, é bom que seja uma pessoa loira. Mas, na falta de um gringo "tipo A" para esfregar na cara do resto da Classe Média, até argentino está valendo".

Eu discordo tão profundamente de tudo o que está escrito no texto todo que a) resolvi me contentar em citar somente esses trechos pra não me delongar até ficar (mais) chata, e b) resolvi abrir mão da minha postura usual "discordo, mas deixa quem gosta disso pra lá porque a discussão vai ser muuuito longa e as pessoas em geral não estão abertas pra ouvir outra opinião".
Ou seja, parabéns pra mim, eu dei um passo: agora eu vou finalmente expressar a minha opinião.

Primeiro, me senti legitimada a falar um pouquinho sobre esse assunto em especial porque estou fazendo intercâmbio nos Estados Unidos, e estou aqui há pouco mais de um mês. Escolhi os EUA tão somente porque só sei falar inglês, e a Inglaterra seria muito cara, e eu só tinha essas duas opções. Segundo, confio na minha capacidade crítica, não sou - definitivamente - a pessoa mais esperta do mundo, mas acho que consigo discernir pelo menos razoavelmente as coisas. E julgo, sinceramente, que eu não vanglorio "gringo": eles têm uma cultura diferente, experiências diferentes, condições diferentes, mas são pessoas, assim, exatamente como eu. Terceiro, um parênteses: eu sou uma pessoa contemplativa. Várias vezes me pego olhando sei lá, um florzinha, por vários segundos, e pensando "é, tem coisa bonita nesse mundo". Várias pessoas só param, olham, dão risada da minha cara e falam "aham, você é doida" :)

Antes de sair do país pra vir pra cá eu sabia que ficaria uns 6 meses longe dos brasileiros, e isso levou o meu eu contemplativo a direcionar o olhar para eles. Me lembro claramente de um dia no ônibus em que eu chacoalhei a cabeça depois de perceber que eu tinha ficado um tempo - sei lá quanto tempo, mas devia ser muito, porque já estava quase chegando na minha casa - olhando cada pessoa que entrava e saía. E eu admirei os brasileiros, ali, no ônibus. Porque tava todo mundo preocupado com alguma coisa, com alguém, ou com uma criança no colo, ou falando no telefone... bom, todo mundo sabe como é um ônibus, então não preciso me explicar. Outra epifania, no meu estágio, olhando lá a faxineira dando risada com alguma amiga dela, que esbarrou no corredor, e outra, no Museu Inimá de Paula, ouvindo Pedro Morais, e amando a nossa música... Ah! Mas foram muitas vezes que eu admirei o nosso povo.

Aí vim pra cá.
Cheguei aqui e vi muita coisa diferente. Muita coisa que no Brasil não funcionaria. Posso andar com a minha mochila aberta nas costas que nada vai acontecer (já andei com ela fechada sem olhar direito no Brasil e a experiência não foi boa). Posso deixar meu lap top na mesa, ir no andar de cima, voltar, ele vai estar lá. A infra-estrutura da Universidade é infinitamente melhor. "O trânsito funciona" e "as ruas são limpas". Os americanos que conheci são muito divertidos (os europeus também. E os mexicanos, sul-coreanos e os não-loiros citados no blog). Admirei todos, e admirei as coisas. Isso não significa que não critico outras coisas. Meu ponto é que eu sei que somos todos capazes de discernir o que é bom e é ruim, e dá pra "pagar pau pra gringo" naquilo que eu acredito que eles conseguiram fazer melhor. E aí dá pra aprender. Quanto ao que eu achar ruim, eu falo pra que eles possam aprender comigo. E eles estão abertos pra isso, sim.

Resumindo, que eu já passei das linhas indicadas pra um post pequeno de blog, eu não pago pau pra gringo, eu não pago pau pra brasileiro...
eu pago pau pras pessoas, em tudo aquilo que eu acredito que elas fazem de bom.

Se o gringo fosse pro Brasil e eu o encontrasse lá, teria a mesma postura. Infelizmente todos os que encontrei foram numa festa/churrasco/encontro/blá por algumas horas, aí não os conheci de verdade, só disse um "oi como vai como vai a vida no Brasil". E não, não falei isso em inglês. (De curiosidade, conheci muitos gringos aqui que falam português fluente... e amam tudo do Brasil. Porque estudaram a nossa cultura e a nossa língua, e não porque é modinha gostar do Brasil que tá com a economia crescendo, não. O estudo deles é de pelo menos 4 anos antes de viajar pra lá).

E, finalmente, não creio que eu seja uma exceção das exceções da classe média. Em geral o que eu penso é representativo de uma parte considerável das pessoas que conheço. Então falar que a classe média "paga pau pra gringo" é bobagem, pra mim, se tem a intenção de crítica - como de fato tem. O blog, no fim das contas, acusa a classe média de ser bitolada e acrítica. Eu discordo. Existem pessoas bitoladas; não venha falar que dá pra falar isso da classe média. Quanto às outras coisas que o blog menciona, várias eu faço (e não acho censurável), várias eu não faço, não importa. Conheço muitas pessoas que não se encaixam em MUITAS dessas generalizações. E são tantas exceções que a generalização perde sentido, e o blog não leva, por isso, a lugar nenhum (exceto a algumas risadinhas, que conseguiu aqui e acolá, muuuito aqui e acolá, arrancar de mim).

Estou dizendo, basicamente, então: pô, galera, dá licença?

sábado, 2 de outubro de 2010

Vida feliz de estudante

Hey ho! Vida de estudante é uma coisa engraçada: é sair pra caramba e é estudar até a cabeça dar um nó, é ter de lidar com o tempo pra fazer tudo, se complicar todo(a) e ainda no fim achar muito divertido.

Ontem eu tive que caçar um lugar pra ir... por mais ou menos 5 minutos. Isso porque é só descer as escadas e perguntar pra qualquer pessoa "what are you up to?", que você já arranjou algo pra fazer. Às vezes nem isso é preciso, o convite já pousa no seu colo. Aí lá fui eu pra casa de uns conhecidos, passar frio até finalmente me aproximar da fogueira e ficar lá, bebericando as coisas e conversando com todas as qualidades de pessoa ((des)conhecida, bêbada, sóbria, brasileira, dinamarquesa, indiana, francesa, mexicana, etcétera e tal, mais velha, mais nova...).
Dia seguinte, vc lava a louça e as suas roupas e o seu quarto, e principalmente você mesmo, porque o cheiro da fumaça da fogueira impregna e é horrível; e isso tudo de ressaca, obviamente. Alguma hora inevitavelmente você vai ter que parar pra estudar... o que me trouxe ao Centro de Estudos/Chapel hoje foi realmente saber que eu me divirto com o que eu estudo aqui. Mas quando eu estiver pissed off com as minhas matérias eu vou vir de qualquer maneira, por causa de alguma prova-quiz-paper-assignment-ou-mera-aula-que-requer-que-você-leia-o-texto-antes-de-ir-assisti-la.

E... yep, fazendo tudo isso tenho me divertido o tempo todo - isso sentindo um frio desgramado - e tenho visto que, afinal de contas, cuidar de si mesmo pode, talvez, não ser tão complicado assim =)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Devia ter começado um blog decente antes

Recomeçando, estadunidensemente!
Ou não, porque eu tô com muita preguiça agora.
Depois eu volto.